Será que desemprego causa depressão? Entenda como o ele pode afetar a saúde mental e emocional de profissionais, saiba quais os sintomas, como diagnosticar e tratar a depressão no desemprego. Vamos conferir?
Desemprego afeta o psicológico
Diante de altos índices de desemprego, conquistar uma posição no mercado de trabalho é um desafio ainda mais difícil. Além da tarefa árdua que é elaborar um bom currículo, se aplicar às vagas com frequência e se preparar para as seleções, tudo isso em meio aos embaraços de se estar desempregado, o mercado torna-se mais exigente quando mais pessoas buscam emprego e menos empresas contratam.
Portanto, nesse cenário, as pessoas desempregadas enfrentam uma série de dificuldades que prejudicam a busca de trabalho, principalmente quando o desemprego causa o adoecimento psicológico, como a depressão.
Para compreender os impactos do desemprego na saúde mental, conversamos com Bruno Fedri, psicanalista, especialista e Mestra em Psicologia pela PUC/SP, doutorando em Psicologia pela Universidade de São Paulo. Veja as questões abordadas:
1. Quais impactos emocionais que o desemprego causa?
É importante entender que o trabalho é uma das formas de exercer cidadania, então, os efeitos negativos do desemprego podem ser diversos. Muitos psicólogos acreditam que a ocupação está associada à saúde do trabalhador.
“Emprego significa também socialização, segurança, reconhecimento social e pode reforçar ao trabalhador a sensação de controle sobre sua vida”, afirma o especialista. Sendo assim, a ausência do trabalho somado aos problemas financeiros e sociais impostos nessa situação pode impactar diretamente as emoções da população. “O desemprego pode provocar sentimento de rejeição, isolamento e, por vezes, até levar o sujeito a se sentir silenciado e desajustado”, finaliza Fedri.
2. Como a depressão impacta a pessoa desempregada?
A depressão pode ser uma causa negativa do desemprego e é uma das maiores questões de saúde pública atualmente. Dados da pesquisa “Impactos do Desemprego: saúde, relacionamentos e estado emocional” de 2017, apontam que 59% dos desempregados se sentem deprimidos ou desanimados, 63% estressados ou nervosos e 62% angustiados.
Além disso, sentimentos de privação de consumo (75%), ansiedade (70%) e insegurança de não conseguir emprego (68%) se destacam. Sendo assim, o levantamento conclui que além de trazer complicações à vida financeira, o desemprego prejudica o estado físico e emocional das pessoas.
Segundo o psicanalista, “a depressão atinge frontalmente questões relacionadas à produtividade e a funcionalidade do sujeito e seu papel social. Uma vez instalada, a depressão restringe o nosso contato com o mundo e por vezes nos leva a crer que não há nada de positivo ou construtivo que possamos oferecer ao nosso redor”.
3. Existem grupos mais suscetíveis ao adoecimento por causa do desemprego?
Ao observar o comportamento prejudicial causado pelo desemprego, nota-se que alguns grupos sociais podem apresentar mais quadros de depressão. Em virtude do preconceito e da marginalização social que certos recortes populacionais enfrentam ao longo da vida, a entrada e a permanência no mercado de trabalho é mais desafiadora, podendo oferecer maiores riscos de adoecimento.
“Populações vulneráveis são invariavelmente mais suscetíveis porque carregam um histórico de exclusão e este perpassa também suas relações com o trabalho. Aqui, vale dizer, ressaltam-se as mulheres, idosos, LGBTI+ (em especial transgêneros), pessoas com deficiência, soropositivos, dentre outros”, explica.
4. Quais os sintomas e como diagnosticar a depressão no desemprego?
Em meio ao desemprego, uma série de sentimentos negativos podem invadir as emoções do profissional, mas entender o real estado de saúde mental e ficar atento aos sintomas é importante para diferenciar a tristeza e o desânimo momentâneo de algo mais sério como é a depressão.
“A depressão possui uma dinâmica que envolve recolhimento e progressiva ausência de interesse pelo mundo exterior. Ela diferencia-se da tristeza por conta de sua permanência. Além disso, as motivações da depressão tendem a ser mais difíceis de serem enxergadas do que em relação à tristeza”, esclarece Bruno.
Diante do quadro depressivo, a pessoa desempregada pode ter como consequência uma paralisação perante à vida profissional. “Podemos pensar que o que nos move a um emprego é também a noção de que temos algo para oferecer de produtivo e funcional.
Se esta noção estiver submetida a crença de que não temos nada de construtivo para oferecer, esta pode levar o sujeito a desistir de sua procura e o sentimento de não pertencimento pode instalar-se, sendo um sinal importante que demanda auxílio”, complementa.
5. Como reverter o quadro de depressão e ter um novo começo?
Sobre a reversão do quadro depressivo no desemprego, o Mestra de psicologia explica que “a situação de desemprego pode se apresentar como uma possibilidade de repensar os próprios projetos e apostar em alternativas temporárias de ocupação, enquanto o trabalho que se almeja não for conquistado.
Novas potencialidades podem ser desenvolvidas neste período e os recursos sociais destas pessoas, especialmente seus familiares, podem auxiliar, acolhendo quem está a procura de uma oportunidade e reconhecendo seus esforços. Desemprego não é sinônimo de fracasso.”
Além disso, Fedri estimula que as pessoas afetadas busquem ajuda: “Se o isolamento é uma das consequências mais prejudiciais do desemprego, uma das alternativas seria a procura por ajuda especializada, no caso, grupos que oferecem apoio à pessoas nesta situação e que ofertam um lugar para estas pessoas – que se sentem “sem-lugar” por conta do desemprego – possam compartilhar suas experiências.
No Instituto Sedes Sapientiae, por exemplo, existe um projeto que recebe, de forma gratuita, pessoas em sofrimento psíquico por situações relacionadas ao trabalho, incluindo o desemprego.”
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