Entenda como é o importante trabalho do intérprete de LIBRAS

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Não importa se foi na escola, no shopping, na rua, no restaurante, em um ponto de ônibus ou até mesmo na TV, você provavelmente já deve ter visto alguma pessoa com deficiência auditiva conversando por meio da língua de sinais. E com certeza você ficou se perguntando o que ela estava falando, certo?

Você sabia que para auxiliar na comunicação das pessoas surdas existe um profissional capacitado que pode auxiliar na tradução, tanto de quem não conhece a linguagem, bem como das pessoas surdas que falam com as mãos e querem se comunicar com os ouvintes?

No post de hoje entrevistemos a gaúcha Débora Pereira Claudio, de 37 anos, e que há mais de 20 se dedica ao trabalho de interpretação da Língua Brasileira de Sinais.

Formada em psicologia, com mestrado em comunicação social, doutorado em distúrbios da comunicação e com certificação de proficiência PROLIBRAS, Débora atualmente reside em Curitiba onde trabalha como intérprete de LIBRAS na Universidade Tecnológica Federal do Paraná.

Catho Educação: Como começou o interesse pela Língua Brasileira de Sinais?

Débora Pereira: O meu interesse pela LIBRAS começou por causa da minha irmã Janaína, que nasceu em 1980 com surdez profunda bilateral. Nesta época um profissional da Fonoaudiologia recomendou para todo mundo da família aprender a língua de sinais, pois seria com essa linguagem que minha irmã iria se comunicar com mais facilidade. E foi a partir deste momento que começou o mergulho da família neste mundo visual.

CE: Conte um pouco da sua trajetória profissional como intérprete de LIBRAS?

DP: Iniciei aos 17 anos na igreja Luterana de Porto Alegre, que ficava anexa à escola onde minha irmã frequentava. Depois disso fui trabalhar na Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). Atualmente sou servidora concursada da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, sendo responsável por acompanhar pessoas surdas tanto em sala de aula, como palestras ou reuniões dentro da UTFPR.

CE: Na prática como é o seu trabalho?

DP: Atuo fazendo a tradução de LIBRAS para o português e ao contrário também. Na universidade meu trabalho é acompanhar o corpo docente, que é surdo, em reuniões acadêmicas. Eu também faço a tradução em sala de aula para os alunos da graduação, mestrado e doutorado. Outros trabalhos pontuais, como tradução em palestras e produção de vídeos institucionais com o recurso de LIBRAS, também são realizados por mim.

CE: Antes de realizar uma interpretação existe alguma preparação?

DP: Sim, temos uma preparação prévia antes de atuar. É preciso um tempo para estudo do vocabulário para chegarmos com um nível de qualidade, já que estamos em uma universidade. Além disso, recebemos sempre os materiais dos professores para sabermos o conteúdo que será aplicado e quais sinais serão usados.

Na sala de aula sempre atuamos em dupla, pois pode acontecer de o intérprete perder alguma parte e faltar um sinal para a pessoa surda. Então acabamos complementando o trabalho do outro.

CE: Sabemos que na vida nem tudo são flores, então quais as maiores dificuldades enfrentadas pelo intérprete de LIBRAS?

DP: A maior dificuldade encontrada por nós intérpretes tradutores de LIBRAS é, com certeza, o desconhecimento da população, da sociedade, dos parceiros ou colegas de trabalho. Em resumo é o desconhecimento em relação a nossa profissão.

Acho também que é uma consequência da profissão, já que a existência desse profissional é recente, bem como a acessibilidade das pessoas com deficiência. É uma luta muito antiga e a regulamentação da profissão só aconteceu em 2011, algo muito novo em nossa sociedade.

CE: Na sua opinião, qual a importância do trabalho do intérprete?

DP: Como sendo indispensável hoje em nossa sociedade! A ausência do intérprete no meu ver seria um retrocesso diante de todas as conquistas da comunidade surda. O surdo tem direito legal a acessibilidade por meio de um intérprete de LIBRAS, e em todas as instâncias, sejam em locais públicos ou privados. No Brasil ainda temos falta de intérpretes, tanto em órgãos públicos ou instituições particulares.

CE: E ao final de um dia de trabalho, como você se sente?

DP: Me sinto muito leve, muito feliz! Eu sou muito grata por trabalhar com algo que me torna uma pessoa melhor. Diariamente aprendo muito quando entro em contato com um surdo na Universidade e traduzo uma aula de mestrado, uma orientação de doutorado, uma reunião acadêmica, um curso de extensão.

Recentemente traduzi uma palestra de uma professora surda que pesquisa sobre surdos indígenas. Foi um presente para mim não só como profissional, mas como pessoa também. O bacana de ser intérprete universitário é conviver diariamente com novos conhecimentos.

CE: E para quem tem interesse em se tornar um intérprete de LIBRAS, o que ele deve fazer?

DP: A primeira sugestão é fazer um curso de língua de sinais e existem uma dezena de cursos Brasil afora. Pode ser uma aula, um fim de semana ou até um semestre. Pode ser pago ou até gratuitamente. O importante é entrar em contato com a língua de sinais, pois às vezes existe a idealização “eu quero ser intérprete”, mas quando você entra em contato com os primeiros sinais a ficha cai que não é aquilo que você imaginava.

Além disso, busque contato com a língua, converse com surdos, se sinta na comunidade surda, vivencie isso. Com o tempo chega o momento de buscar uma formação mais aprofundada podendo ser bacharelado ou licenciatura.

CE: E o mercado para os intérpretes de LIBRAS como está?

DP: O mercado tem crescido bastante, bem como o número de intérpretes tem aumentado muito nos últimos anos. Eu acho que a valorização do profissional está em alta, está crescendo. Cada vez mais as empresas, os hospitais, os juízes nos tribunais, as universidades, as escolas, inclusive os condomínios estão procurando esses profissionais para prestar serviços.

CE: Para finalizar você além de trabalhar com LIBRAS na Universidade, mantém um canal de receitas no youtube com tradução em LIBRAS, como surgiu essa ideia?

DP: A ideia do canal Chef Cenoura surgiu em virtude de um blog que eu e o meu marido postávamos receitas vegetarianas. Somos vegetarianos há muitos anos e é comum algumas piadinhas do tipo: o que vocês comem? Só alface?

Um grande amigo nosso, Lucas Costa, teve a ideia de criar o canal e eu pensei em traduzir as receitas que meu marido estava elaborando, transformando assim as receitas escritas no blog em algo visual.

No canal acabo por trabalhar de duas formas: às vezes apenas traduzindo em LIBRAS e em outros eu apareço fazendo os sinais e falando ao mesmo tempo, isso é chamado de bimodalismo.

E aí conta pra gente nos comentários, tem vontade de aprender LIBRAS e seguir carreira como nossa entrevistada?

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