Verificar a revisão do tempo, pedir uma refeição, solicitar um taxi, aprender um novo idioma, conversar com familiares, assistir uma série, ler um livro…essas são algumas das centenas de atividades que podemos executar por meio de um simples aplicativo.
Entretanto, para você conseguir realizar essas e outras atividades existe todo um processo de concepção e desenvolvimento por trás desses aplicativos.
Nesse artigo vamos conversar com o paulista Alessandro Straccia, 41 anos, publicitário de formação e desenvolvedor de aplicativos por vocação. Nosso entrevistado vai contar um pouco da sua vida por trás de uma tela de celular. Vamos conferir?
Quando começou a se interessar por desenvolvimento de aplicativos?
Alessandro Straccia: Comecei a ter contato com desenvolvimento muito novo, com dez ou 11 anos, no Apple II do meu pai, e sempre tive facilidade com programação. Mais tarde, optei pela Publicidade e foquei na área de criação, mas sempre trabalhei unindo criatividade com tecnologia.
Em 2011 montei minha empresa, uma agência / produtora digital, e entre as coisas que a gente oferecia aos clientes era o desenvolvimento de aplicativos, pois era uma demanda muito alta entre eles. Então, foi meio que uma migração natural do desenvolvimento de sites para o desenvolvimento de aplicativos.
Depois de crescidinho, qual foi seu primeiro aplicativos?
AS: Em 2012 lançamos um aplicativo chamado Cidade Legal, o qual era uma espécie de zeladoria urbana, onde os usuários podiam denunciar pontos problemáticos na cidade, como buracos nas ruas, lixo sem recolhimento, semáforos quebrados, entre outras categorias.
Nesse projeto, coordenei toda a concepção visual e técnica do aplicativo, além de fazer o desenvolvimento da versão para plataforma Android dele.
Qual o sentimento quando você sabe que as pessoas estão usando o aplicativos?
AS: Sentimento de muita alegria! Acaba sendo engraçado você ver pessoas conhecidas te falarem sobre o App sem você ter falado sobre ele. Várias vezes, pessoas vinham me mostrar o Cidade Legal e depois eu comentava: “pois é, fomos nós que desenvolvemos!”.
Além de ser uma sensação gostosa, onde você sente que um bom trabalho foi feito, há o reconhecimento das pessoas.
Para o desenvolvimento de aplicativos, quais são as etapas a serem realizadas?
AS: É um processo complexo, mas podemos dividir em algumas tarefas básicas:
- UX, onde você planeja o App e sua navegação. Aqui, em resumo, você define os objetivos do App, os objetivos dos usuários, define o conteúdo e a navegação. Essa etapa gera a especificação técnica e o wireframe, que deverão ser seguidos nas próximas etapas. Aqui também geramos o protótipo navegável que servirá para equipe (e às vezes, o cliente) testar se a navegação atende aos requisitos do aplicativo.
- UI, que é a parte visual do trabalho. Pegamos como base o wireframe e especificações da etapa de UX, e também os materiais gráficos do cliente, como manual de marca, paleta de cores, referências visuais, e aí geramos graficamente todas as telas do App.
- Desenvolvimento: aqui temos duas partes que trabalham em paralelo:
– desenvolvimento mobile: que é o desenvolvimento do App em si, utilizando a linguagem de programação mais adequada aos requisitos do App. Chamamos de desenvolvimento Frontend.
– E o desenvolvimento backend / API: todo aplicativo precisa ler e gravar informações que quase sempre não ficam gravados no smartphone do usuário. Por exemplo, dados de login, senhas, cadastros, etc. Nesse caso, precisamos ter um sistema rodando na nuvem, que guarda as informações de todos os usuários. Além disso, é no backend que as regras de negócio do App acontecem realmente. O objetivo é tirar toda a parte de processamento pesado do App em si (frontend) e deixar essa tarefa para o backend.
- integração frontend / backend: quando as duas etapas de desenvolvimento são concluídas, começamos a fazer a integração entre elas, para nos certificarmos que todas as chamadas do App para a API / Backend estão sendo feitas de forma correta, e com toda segurança necessária
- testes / QA: são feitos testes exaustivos, tanto de navegação quanto de validação de dados no servidor, para assegurar que o produto final esteja de acordo com as especificações e também esteja funcionando corretamente
- deploy: a etapa final é essa. O aplicativo é enviado para as respectivas lojas (Appstore e Google Play), e após alguns dias estará liberado para download pelos usuários.
Para chegarmos no produto pronto para o usuário final, qual o tempo médio?
AS: Varia bastante, mas um aplicativo simples, sem necessidade de desenvolvimento de backend, pode ser feito em duas semanas. Mas já tive projetos que duraram mais de um ano.
Quais ferramentas são as mais usadas pelos desenvolvedores de aplicativos?
AS: Para parte visual, os designers costumam usar as ferramentas da Adobe, como Photoshop e XD para criar e prototipar Apps. É usado muito o Sketch e o Invision também. Na parte de desenvolvimento, varia bastante: desde editores de código como Sublime Text, quanto editores complexos como o Visual Studio.
Como você vê hoje o mercado de aplicativos?
AS: É um mercado que não tem crise. Seja trabalhando como freelancer, tendo sua própria empresa, ou trabalhando em uma, existe sempre uma demanda muito alta por aplicativos. Mas, como geralmente o custo de desenvolvimento de um aplicativo é consideravelmente maior do que de um website, ainda existe uma briga bem grande por esta fatia de mercado.
O que o futuro nos reserva em termos de novos aplicativos?
AS: Nos últimos dois anos, o mercado de Realidade Aumentada tem crescido bastante. Tanto Apple quanto Google tem investido bastante nessa área, e a cada nova versão de seus sistemas operacionais, mais novidades em “AR” tem aparecido. Por isso acredito que grandes novidades virão nesse segmento.
Qual plataforma demanda mais trabalho no momento do desenvolvimento?
AS: Desenvolvedores React tem sido bastante procurados pelas empresas, principalmente React Native. É uma tecnologia criada pelo Facebook que permite que se desenvolva aplicativos tanto para Android quanto para iOS com apenas uma linguagem.
Na sua carreira profissional, qual foi o seu maior desafio?
AS: Acredito que buscar e gerenciar talentos. Como tive minha própria empresa por muitos anos, conheci muitos desenvolvedores talentosos e promissores mas que pecavam em coisas simples, como responsabilidade, qualidade de entrega, entre outras coisas.
Por isso deixo uma dica, acredito que é muito importante para os profissionais que vão embarcar nessa lembrem-se de que, antes de saber programar, ou fazer um bom layout para um App, é importante ter ética e responsabilidade, seja para com seu empregador ou para com seus clientes, se decidir por trabalhar como freelancer.
Para ser um profissional diferenciado quais cursos a pessoa pode fazer?
AS: Existem muitos cursos de UX e UI no mercado, além de cursos específicos de desenvolvimento. Acho importante, na área de desenvolvimento, ficar por dentro de tecnologias como React e Node.js, uma vez que a demanda por esses profissionais têm aumentado cada vez mais.